Se você é mulher e está lendo isso enquanto bebe água de uma garrafa plástica ou come algo aquecido no micro-ondas em um recipiente descartável, talvez queira prestar atenção ao que a ciência acabou de descobrir.
Uma pesquisa recém-publicada na revista Environmental Science and Ecotechnology trouxe à tona algo que muitas de nós suspeitávamos, mas não tínhamos comprovação: os plásticos que usamos todos os dias podem estar bagunçando nossos hormônios de uma forma muito mais séria do que imaginávamos.
O que os cientistas descobriram
Pesquisadores da Central China Normal University fizeram um experimento que, francamente, deveria nos deixar todas um pouco mais atentas. Eles expuseram grupos de ratas fêmeas a duas substâncias que encontramos constantemente no nosso cotidiano: microplásticos de poliestireno (aqueles que vêm do isopor e de embalagens plásticas) e DEHP, um plastificante presente em tudo, desde embalagens de comida até cosméticos.
O resultado? As ratas que foram expostas aos dois compostos juntos desenvolveram alterações nos ovários que lembram muito a síndrome dos ovários policísticos (PCOS) – aquela condição que afeta milhões de mulheres no mundo e pode causar desde irregularidades menstruais até dificuldades para engravidar.
Não estamos falando de doses absurdas de laboratório. Os pesquisadores usaram quantidades que correspondem ao que uma pessoa comum poderia estar absorvendo no dia a dia, seja comendo, respirando ou simplesmente vivendo em um mundo cheio de plástico.
Por que isso deveria nos preocupar?
Vamos ser diretas: praticamente todas nós estamos expostas a essas substâncias diariamente. Aquele copo de isopor do café da manhã, a marmita aquecida no micro-ondas, a embalagem do queijo fatiado, o shampoo que não lista todos os ingredientes – tudo isso pode conter esses compostos.
O que mais impressiona na pesquisa é que os microplásticos parecem funcionar como uma espécie de “uber” para o DEHP, facilitando seu transporte pelo corpo e potencializando seus efeitos tóxicos. É como se um problema ajudasse o outro a fazer ainda mais estrago.
As ratas expostas apresentaram:
- Alterações nos ovários compatíveis com infertilidade
- Queda nos níveis de estradiol (hormônio essencial para um ciclo menstrual saudável)
- Aumento da testosterona (comum em mulheres com PCOS)
- Sinais de fibrose ovariana (cicatrização anormal dos tecidos)
- Aumento da inflamação e estresse oxidativo
Mas calma, não precisa entrar em pânico
Antes de você sair jogando todos os plásticos da sua casa no lixo (o que, aliás, não resolveria o problema ambiental), vamos ao que realmente importa: o que você pode fazer para se proteger.
A boa notícia é que pequenas mudanças no dia a dia podem fazer uma grande diferença:
Na cozinha:
- Pare de esquentar comida em recipientes plásticos no micro-ondas. Use vidro ou cerâmica.
- Troque aqueles copos descartáveis por uma caneca de cerâmica ou copo de vidro.
- Evite comprar alimentos muito processados ou que vêm em embalagens plásticas flexíveis.
- Não reutilize garrafas PET – quanto mais tempo e calor, mais substâncias elas liberam.
No banheiro:
- Leia os rótulos dos cosméticos e procure produtos “livres de ftalatos” ou “phthalate-free”.
- Dê preferência a marcas que são transparentes sobre sua composição.
Em casa:
- Mantenha os ambientes bem ventilados e limpos para evitar acúmulo de poeira com resíduos plásticos.
- Se você tem filhos, invista em brinquedos certificados e livres de PVC.
O que vem por aí?
Embora este estudo tenha sido feito em animais, os mecanismos identificados são os mesmos encontrados em pesquisas sobre infertilidade humana. Isso significa que os resultados são muito mais relevantes para nós do que poderíamos desejar.
Os próprios pesquisadores dizem que há evidência suficiente para que governos comecem a repensar as políticas de controle e rotulagem de plásticos, especialmente aqueles que entram em contato com alimentos e produtos voltados para mulheres.
Enquanto isso não acontece, nossa melhor defesa continua sendo a informação e algumas escolhas conscientes no dia a dia.
A realidade é que…
Vivemos em um mundo de plástico, e não é realista (nem necessário) tentar eliminá-lo completamente da nossa vida. Mas podemos ser mais inteligentes sobre como e quando o usamos, especialmente quando se trata da nossa saúde reprodutiva.
Esta pesquisa não deve ser motivo de pânico, mas sim um lembrete de que nosso corpo está constantemente processando substâncias que nem sempre percebemos. E quando se trata de hormônios femininos – que já são naturalmente complexos e sensíveis –, um pouco mais de cuidado pode fazer toda a diferença.
Afinal, conhecimento é poder. E neste caso, pode ser também proteção.
Fonte da pesquisa: Xu, et al. “Polystyrene microplastics and di-2-ethylhexyl phthalate co-exposure: Implications for female reproductive health”, Environmental Science and Ecotechnology, 2024.